Estratégias sistemáticas: Benjamin Graham, muito mais que um ‘Investidor Inteligente’
O professor Benjamin Graham, da Columbia University em Nova York, é famoso por seu livro “O investidor inteligente”, mas outra obra de sua autoria – muito mais notável – ainda é a base de um sistema altamente eficiente de alocação, mesmo 80 anos depois de seu lançamento.
Em 1934, Benjamin Graham publicou um livro intitulado Security Analysis, que se tornaria a pedra angular de todo o vasto edifício que constitui hoje a moderna teoria das finanças.
Nele, o autor formulou os seguintes conceitos:
- que qualquer título financeiro tem um “valor intrínseco”;
- que esse valor pode ser estimado racionalmente por um analista, com base nos direitos econômicos presentes e futuros que tal título confere a seu detentor.
Graham ficou conhecido como o pai do value investing, um dos estilos de investimento mais celebrados da história. Graham-Newman Corporation, sua firma de investimentos, atingiu notável sucesso. Dela emergiu toda uma geração de investidores excepcionais – entre eles, um talentoso ex-aluno de Graham na Columbia, Warren Buffett.
De forma simplificada, Graham descobriu que era possível obter retornos excepcionais adotando uma estratégia de investimentos que consiste em comprar ações consideradas baratas por certas métricas.
A moderna teoria de finanças comprova que a estratégia formulada por Graham permanece tão válida hoje quanto há quase cem anos. Fosse vivo, talvez se surpreendesse em descobrir que sua estratégia se mostra eficaz em mercados não somente nos EUA, mas em todo o mundo.
Há uma discussão acadêmica, profunda e por enquanto inconclusiva, sobre as razões pelas quais o value investing se mostra tão duradouro.
A questão é desconcertante: afinal, se todos os investidores sabem que comprar ações baratas gera retornos superiores, por que tal oportunidade não atrai cada vez mais capital, até a oportunidade desaparecer?
Nas últimas décadas, tal desconcerto só cresceu. Com o advento da computação moderna e o desenvolvimento de métodos matemáticos empregados às finanças, passou a ser possível estudar uma quantidade teoricamente infinita de estratégias.
Em 1992, o professor Eugene Fama, da Universidade de Chicago, publicou, com Kenneth French, um artigo que abriria uma verdadeira caixa de Pandora no mundo das finanças.
Nele, Fama comprovou, de forma rigorosa, que ações baratas de fato geram retornos superiores ao mercado, em contradição à Teoria dos Mercados Eficientes, que ele mesmo formulara décadas antes e que lhe renderia um Prêmio Nobel. Além disso, o artigo mostrava que comprar ações de empresas de pequena capitalização também era capaz de gerar retornos superiores no médio e longo prazo.
Alguns anos depois, outros pesquisadores identificaram que características como rentabilidade e momentum (tendência de preços) também geravam retornos excepcionais em diversos mercados e em muitas classes de ativos.
Essas descobertas mostraram que o que Graham identificara há quase cem anos, de forma empírica, era apenas uma num conjunto maior de anomalias no funcionamento dos mercados que podiam ser exploradas para buscar retornos superiores.
Entre os pesquisadores que desenvolveram os conceitos que hoje chamamos de factor investing estão verdadeiros gênios do pensamento econômico, como Eugene Fama, David Booth e Cliff Asness. Mas, com disse Isaac Newton, se puderam ver mais longe, foi porque se ergueram sobre os ombros de um gigante: Benjamim Graham.
Chamamos de fator de risco a cada uma das anomalias que foram identificadas ao longo do tempo, das quais Valor foi a primeira.
No próximo artigo, vamos falar mais sobre as estratégias que exploram tais anomalias para gerar retornos superiores, ou seja, o factor investing.